Cinema – Bruna Surfistinha – Irregular e superficial

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Cinema – Bruna Surfistinha – Irregular e superficial

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“Bruna Surfistinha” retoma um ponto que há tempos não era abordado na cinematografia nacional: os filmes eróticos. Se a coragem na temática causa algum espanto nestes tempos recatados e conservadores, as imagens vistas na tela decepcionam pela falta de ousadia. É um filme extremamente irregular e superficial, sua premissa é o livro escrito pela ex-garota de programa Raquel Pacheco – “O Doce Veneno do Escorpião”. Neste, a escritora relata seu início nesta vida e alguns causos que a marcaram. Ela é conhecida pelo blog que mantinha e nele discorria sobre sua profissão e seus clientes.

O filme inicia com Raquel (Bruna) em seu lar: seu é pai ausente, sua mãe protetora e seu irmão opressivo. A personagem foi adotada por estes entes. Vemos nas primeiras cenas alguns problemas familiares e psicológicos (cleptomania) da personagem. A seguir a temos em seu colégio e sua sensação de estranhamento perante seus colegas de classe. Raquel sofre bullying destes e compreende que seu lugar não é com esses amigos/familiares.


A partir deste ponto, o filme traça uma ascensão e queda de Bruna (Raquel) no mundo da prostituição. Seu começo, suas dificuldades, suas dúvidas e o mais descrito: sua rotina. Marcus Baldini, o diretor, optou por um cine-diário, com direito a voz da personagem em off descrevendo suas ações. “Bruna Surfistinha” foca na ascensão da personagem, desde a escolha de sua alcunha, seu primeiro programa, até os momentos de glória em uma festa particular em sua casa. O interessante do filme é o curioso microcosmo ao redor da profissão garota de programa. Suas amizades com outras prostitutas, a figura da patroa, seu relacionamento afetivo com clientes, seus fetiches, sua obsessão e todo o universo econômico por trás da “profissão mais antiga do mundo”. Por mais que seja um filme frívolo do ponto de vista narrativo, é inegável o poder e a complexidade da personagem. Deborah Secco, a atriz que interpreta Bruna, resolve a encenação pelos seus dotes como atriz e pelas qualidades de seu corpo que são emprestados ao filme. Aliás, este recurso publicitário assim como muitos outros é a principal estética do filme de Marcus Baldini. Mas de uma coisa é certa, se o filme peca em vários pontos, a culpa não é da eficiente Deborah Secco.

A maior parte da obra é sobre a elevação de posição da personagem, que começa em um simples bordel e, ao final, se torna “autônoma” e independente – seu principal objetivo desde que saiu de seu lar. Se existe algum encantamento da vida no miolo do filme, este é desfeito ao final. Isso é uma das grandes falhas do filme. É desigual e irregular o tratamento do roteiro frente a desglamorização da personagem. A desconstrução passa por um filtro extremamente moralista e pragmático. O simplismo decadente do desfecho acaba com toda complexidade da trama. “Bruna Surfistinha” peca pelas escolhas na abordagem, principalmente no que tange a estrutura da narrativa.

Lucas Murari

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