Permanência de Mubarak no poder divide aliados do Egito, que temem fundamentalistas islâmicos

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Permanência de Mubarak no poder divide aliados do Egito, que temem fundamentalistas islâmicos

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Fonte:Agência Brasil
Eduardo Castro
Correspondente da EBC na África

Maputo (Moçambique) – Mudança é a palavra de ordem no Egito. É o pedido na boca dos manifestantes, nas ruas das principais cidades egípcias há sete dias seguidos. É o discurso da oposição que começa a se organizar. Aparece até nas declarações de antigos aliados do presidente Hosny Mubarak, há 30 anos no poder. “Mubarak já deu o que tinha que dar, tanto no nível doméstico quanto internacional. Por isso, toda essa pressão sobre ele”, afirma Antonio Gaspar, diretor do Instituto Superior de Relações Internacionais de Moçambique.

Mas, lembra o professor, mudar não quer dizer exatamente a mesma coisa para todos os atores do cenário egípcio. Nas ruas, o pedido é por renúncia ou afastamento imediato de Mubarak. Para amanhã (1º), foi convocada uma greve geral. A mobilização é para levar 1 milhão de pessoas às ruas. Nem mesmo o desabastecimento dos mercados da capital Cairo parece arrefecer os ânimos.

Hoje (31), o presidente Mubarak deu posse ao novo gabinete, depois da demissão coletiva da madrugada de sábado, logo após às grandes manifestações de sexta-feira (28). No dia, seguinte, Mubarak nomeou Omar Suleiman, chefe da inteligência, para vice-presidência do país. Ahmed Shafiq, ex-comandante da Força Aérea e outro aliado, foi indicado para o cargo de primeiro-ministro. O titular da pasta da Defesa, Mohamed Hussein Tantawi, manteve o posto e ainda ganhou o status de vice primeiro-ministro.

Mas, para os manifestantes, as alterações no primeiro escalão foram irrelevantes. Pelo quinto dia seguido, milhares de pessoas ignoraram o toque de recolher imposto pelo governo e permaneceram nas ruas para pedir a saída de Mubarak.
A oposição, que nunca teve real perspectiva de chegar ao poder nesses últiomos 30 anos, agora admite a possibilidade. Mesmo que Murabak mantenha-se no cargo, eleições presidenciais estão marcadas para setembro.

Mohamed El Baradei, ex-inspetor de armas nucleares das Nações Unidas e ganhador do Prêmio Nobel da Paz, veio da Áustria disposto a ocupar o espaço – vago – de líder da resistência às forças de Mubarak. Depois de algumas horas detido na sexta-feria, El Baradei voltou às ruas no fim de semana, para participar das manifestações populares.

A Fraternidade Muçulmana, maior e mais antiga organização islâmica do país, demorou a aderir aos protestos, mas deve receber grande quantidade de votos nas eleições. Não é considerado um grupo radical, mas é ligado aos princípios do fundamentalismo muçulmano. Não seria a perspectiva de mudança dos sonhos dos países ocidentais, lembra o professor Gaspar. “A chamada comunidade internacional quer mudanças, mas não as que possam trazer problemas ligados ao fundamentalismo na região ou que dêem espaço para que se ponham em causa os seus valores”.

Hoje (31), a União Europeia (UE) pediu diálogo aberto e pacífico entre oposição e  governo, enfatizando que o Egito deve “seguir no caminho de mais democracia”. A alta representante para Assuntos Externos e Política de Segurança da União Europeia, Catherine Ashton, afirmou que as preocupações da sociedade devem ser atendidas com ações concretas e que a UE pode apoiar o processo de transição para um novo governo, desde que “conduzido pelo povo”.

Também hoje, o presidente de Israel, Shimon Peres, declarou que o país apoia a manutenção de Mubarak no poder. “Não dizemos que tudo o que faz seja correto, mas fez uma coisa pela qual estamos agradecidos: manteve a paz no Oriente Médio”, disse Peres, citado pela rádio oficial israelense. Segundo ele, “um regime fanático e religioso no Egito será pior que a ausência de democracia”.

Já o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, limitou-se a dizer que é necessário garantir a manutenção da paz no Egito e a estabilidade na região. Segundo o jornal diário Haaretz, Israel pediu aos Estados Unidos, à China, à Rússia e a vários países europeus que limitem as críticas a Mubarak. O Egito e a Jordânia são os únicos dos 22 países da Liga Árabe que reconhecem o Estado de Israel.

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