A Origem – Uma boa ideia que falha na sua condução.
Se o prólogo de “A Origem” tem como função situar o espectador no universo esquemático que o filme irá
decorrer, este recurso narrativo servirá apenas para corroborar uma muleta que o roteiro utiliza para complexificar uma trama confusa e “mirabolante”, muito mais próximas dos quebra-cabeças ao estilo de Charlie Kaufman do que um ambiente onírico e surreal como os de Luís Buñuel.
Os sonhos não são utilizados como forma de inconsciente alegórico (Freud), mas sim como calabouço de situações refenciais ao mundo real.
O filme lida essencialmente com informações e a possibilidade de roubá-las ou inserí-las.
Uma trupe liderada por Leonardo Di Caprio, um extrator de sonhos que compartilha estes com objetivos próprios. O mote principal é se infiltrar na mente de um herdeiro e manipular uma informação relativa a sua herança e ao futuro da empresa de seu pai.
O desenvolvimento de tal operação envolverá uma vasta gama de empecilhos que serão tratados através de várias camadas dentro do universo onírico. O diretor Christopher Nolan optou por abordar o mundo dos sonhos de uma forma que beira o realismo.
Se algumas (poucas) situações beiram o absurdo, grande parte daquilo que é sonhado tem um caráter plausível, real, típico de um filme de ação hollywoodiano. Tal conservadorismo representacional peca pela falta de ousadia é neste cenário psíquico que o filme se perde no seu próprio quebra-cabeça. Ao construir vários níveis dentro da obra e explicar didaticamente ao espectador cada desdobramento, o realizador cria um filme engodo. Uma boa idéia que falha na sua condução.
A estética intrincada poderia ser exponenciada pela simples idéia de um sonho dentro do sonho. Porém, ao entrar cada vez mais fundo dentro do imaginário de seus personagens, ficamos à mercê de situações que apenas exploram o lado explosivo da trama. Não existe uma linha que separa o real do irreal, todo filme é construído com objetivo de enaltecer as cenas de ação em mais um thriller americano. Pura filosofia barata, contrariando uma parcela da crítica norte-americana.

O único personagem elaborado é o protagonista interpretado por Leonardo Di Caprio. Fora este, todos são construídos em cima de arquétipos específicos e funcionais para uma simples trama.
A questão da memória é fundamental para a problematização do protagonista e a imagem do passado e a crise conjugal com Marion Cotillard se justificam ao final do filme. Um filme careta, que conta com uma excelente idéia mas que falha pela falta de ousadia.
“O sonho tornou-se a realidade deles. Quem é você para dizer o contrário?”
Lucas Murari
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