Cinema -“Wagner Moura e sua capacidade de dar vida a um farsante em VIP´s”
O próprio título de Vip’s deixa claro que o mote principal do longa-metragem de estréia de Toniko Mello não é sobre um personagem, mas sobre
uma sociedade, mais precisamente sobre uma certa parcela desta. Por mais que o protagonista interpretado brilhantemente por Wagner Moura ganhe o carisma do público, sua utilização é bastante consciente do ponto de vista crítico, seja enaltecendo a elite brasileira ou questionando a(s) identidade(s) do personagem.
Wagner Moura interpreta Marcelo, personagem baseado na história verídica de Marcelo da Rocha, um farsante que se notabilizou por assumir diversas identidades nos mais diferentes meios. Seu golpe mais famoso foi ter se passado por Henrique Constantino, filho do dono da Gol. O filme inicia com o protagonista ainda adolescente. Já na abertura fica claro o gosto pela falsidade, pelo leque de opções que isto possibilita. Vindo de uma família humilde, órfão de pai e criado apenas pela mãe, Marcelo fará de tudo no decorrer da narrativa para realizar seus sonhos que, com o decorrer do filme, vão se tornando cada vez mais ambiciosos. Primeiramente sonha em pilotar um avião, no término de Vip’s, depois de passar por vários outros pseudônimos, se passará por uns dos donos de uma das principais empresas aéreas do Brasil. Se o breve resumo da história parece insólito, é neste labirinto do roteiro que o filme cresce. Sabendo do risco de confluir em algo banal, o diretor criou alavancas para a história. Múltiplos recursos que legitimam o personagem, sua fixação pelo pai imaginário, a relação de sua mãe com o universo de celebridades, as metafóricas cenas dos peixes, touradas e do letreiro do caminhão são exemplos de muletas que sustentam e conduzem o filme.
Os roteiristas Bráulio Mantovani e Thiago Dottori conseguem criar um personagem redondo, complexo. O amadurecimento de Marcelo se dá principalmente nas suas ousadias, cada vez mais arrojadas. Longe de ser um filme simplista sobre um farsante, Vip’s questiona a identidade, a sociedade e a hipocrisia. Wagner Moura soube conduzir o personagem, sarcástico e ingênuo.
Lucas Murari
Trailler abaixo:
Filme foi baseado na vida de Marcelo Nascimento, entrevista dele abaixo:
