ESTADÃO – Campus Party põe em discussão o ”fim da internet”.
O papel das plataformas abertas e fechadas na internet foi o principal item de controvérsia em debate realizado ontem na Campus Party, evento que está sendo realizado em São Paulo.
Defensor da plataforma aberta, Vagner Diniz, diretor do World Wide Consortium (W3C) Brasil, citou o artigo escrito em 2010 pelo editor da revisa Wired, Chris Anderson. ‘Ele não falou sobre o fim da internet. Falou do fim da web. Entendemos por web plataformas abertas como HTML e HTTP, que estão perdendo espaço para plataformas fechadas, como os aplicativos.’
Para Diniz, tal processo é normal e faz parte da apropriação comercial de uma inovação criada pelas plataformas abertas. ‘É no ambiente aberto que a inovação acontece. É no ambiente proprietário que a riqueza é aprisionada. É verdade que apps (aplicativos) dão respostas mais rápidas, mas também é verdade que a web está inovando e pode ultrapassar os apps novamente.’
Pedro Dória, editor-chefe de conteúdos digitais do Grupo Estado, discorda. Acredita que este seja mais um fim da internet, que vai surgir novamente, de outra forma. Mas não vê mal nenhum em existirem plataformas fechadas. ‘Isso (app no smartphone) é fácil de usar. A web como plataforma é difícil.’
Para ele, a inovação pode acontecer tanto na plataforma aberta quanto na fechada. O perigo estaria na formação de monopólio. ‘Entre meados de 40 e fim dos anos 80, as gravadoras dominavam a música e não é verdade que não havia inovação. Somente quando viraram monopólio e passaram a pensar apenas no produto é que travou. E isso abriu espaço para a criação de uma nova tecnologia, que mudou tudo de novo.’
Em relação aos smartphones, Dória defendeu os sistemas e aplicativos, contanto que existam vários. ‘Não importa que seja fechado, desde que não seja só Apple. Tenha Android, Blackberry, entre outros. E a multiplicação de novas plataformas via internet não é ruim. TV, rádio e geladeira devem se conectar sem necessariamente precisar de web para isso.’
O diretor da W3C, por sua vez, lembrou que, necessariamente, passariam por uma plataforma aberta para comunicação, para evitar o monopólio. Nesse ponto, Dória concordou e fez uma ressalva. ‘Precisamos explicar melhor para não confundir protocolo, o TCP/IP (usado na internet) com plataformas (web e aplicativos).’ Nesse aspecto, ambos também concordaram que era necessária uma regulamentação mínima do governo.
‘Ou governos’, lembrou Pedro Markun, do site Esfera, destacando a pluralidade. ‘A internet não tem fronteiras e deve ser discutida entre os países.’ Markun lembrou também de sites que fizeram sucesso com plataformas fechadas criadas em cima de plataformas abertas, como é o caso do Facebook.