Uma lição de política antes do jantar.

Opinião,

Uma lição de política antes do jantar.

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Marcos aguardava o pai chegar. Seu Fernando tinha uma pequena propriedade, uma padaria que herdou do seu pai, da onde vinha. E Marcos, aos 14 anos de idade, tinha já um pouco de juízo e sabia o perrenho que o “Velho Nando” dava pra manter o colégio e o Inglês. “Graças a Deus sou filho único!”. Sorte?! Sorte era o que precisava naquela manhã de terça “o f.. é que é terça. Ele vai ficar de cara!”. E vai.

O negócio era que, esse moleque fi-lhi-nho-de-pa-pai havia tirado umas fotos de uma outra fi-lhi-nha-de-pa-pai. E a informação chegou para a mãe. Dela, acabara de repassar por telefone para o seu pai. “Espero que seu pai tome umas boas providências”. A mãe sabia o grau de perversão daquele “bastardo”. Disse ela, desconhecendo seu significado. Atirou seu olhar na direção do menino, mas os dele não estavam lá. O dele olhava o destino: o seu pai que estava prestes a chegar.

“Era uma gostosinha”. E era o que todo mundo tava falando. “Como eu saio dessa?!”. Vai saber! Ligou a televisão e de cara o JN da a notícia: _Hoje o Senado absolveu Renas Calheiros mais uma vez. “Como assim?” . Disse como quem assiste o juiz anulando um gol legal do seu time. “Pô!”. Pensou em gritar um palavrão em seguida, mas lembrou que sua mãe gostava de um “bom palavreado”. Não era a ocasião de descordar dela.
“Esse cara sim, tem uma p… sorte!”. Sorte?! Bom. Ambos estavam envolvidos em escândalos. E em tudo tinha mulher no meio! “Outra gostosa!”. Mas um tinha se dado bem, o outro estava prestes a se lascar. “Mulheres…”. Mulheres. E assim, ele começava a sacar duas das coisas mais contraditórias da vida: Política e Mulher.

Diante daquelas circunstâncias, em que o protagonista do JN era um exemplo a ser seguido. “Isso é se dar bem”. Por quê?! Achou brilhante concluir que ali no Senado a maioria são homens, e homem faz qualquer besteira, quando o assunto é mulher. Ele mesmo tinha feito uma. Sabia também que a mulher do Renan tinha tirado umas fotos. “Jornalista…hehehe…”. Ria por que certa vez ouviu alguma coisa sobre o FHC e uma jornalista da Globo. Achou brilhante concluir também que, jornalista e político são todos safados.

_ Boa noite!_ Seu pai entrou, depositando as chaves sobre o armário da sala.

_ To com uma p… fome!_ Andou até a cozinha, onde um velho rádio tocava um sertanejo da moda. Abafando o choro da mulher.

Marcos sabia que os segundos se esgotavam. O pai conversava algo que não entedia, quando o Jornal relacionou tudo com a CPMF. “É claro!”. Deduziu que ele precisava de algo pra negociar. Grande sacada. Lembrou que já tinha pegado o pai olhando uns saites de pornografia. E que podia usar isso contra ele. “Não!”. Pensou melhor. Pensou que sua mãe sendo mulher e evangélica, tivesse sido severa no julgamento. O pai era homem. E já tinha pegado seu pai olhando saites de pornografia.

O negócio é que os dois gostavam de uma putaria. Era só negociar um jeito de cada qual fazer a sua respectiva putaria, que tudo ficaria em paz na casa. Podia fazer isso tudo “de cabeça erguida demonstrando mais uma vez que não usa das prerrogativas do cargo pra se defender”. Achou brilhante concluir que isso era política.
A marcha do pai desafinava o compasso do anuncio do intervalo. Entretanto àquela altura já não causava tanto medo a sua lentidão.
Pai! – disse ele, antes do pai dizer algo.
_ O que foi meu filho?!

_ Acho que precisamos conversar.

_ E precisamos mesmo…
_ Mas, de amigo pra amigo…

Por: Robson Vilalba

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