Em Salvador (BA) – Nove moradores de rua assassinados em SSA.

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Em Salvador (BA) – Nove moradores de rua assassinados em SSA.

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Nove moradores de rua foram assassinados desde 2010 até hoje, apenas em Salvador. As vítimas dessa violência tinham idades de 30, 50 e 65 anos. Muitos deles trabalhavam reciclando material, pedindo esmolas nas ruas e limpando vidro nas sinaleiras.

Eles foram assassinados a tiros, pedradas e com golpes de facadas enquanto dormiam em baixo de viadutos e em locais sem nenhuma medida de segurança. Para a coordenadora do movimento População de Rua, Maria Lúcia Pereira, os crimes revelam a discriminação social e que tudo não passa de uma limpeza na cidade.

“Eles foram mortos enquanto dormiam. É preciso que ajam políticas públicas voltadas para esses moradores de rua que por não ter amparo, acabam escolhendo as ruas como moradia”, disse.

Segundo Maria Lúcia, na última contagem pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), catalogado em 2008, revelou que 3.278 pessoas estão vivendo nas ruas de Salvador. Inclusive esses dados não são atualizados e ela disse que batalha para que seja formalizado um novo censo.

“Estamos também lutando para que seja implantado na Capital o projeto Movimento Nacional voltado para moradores de rua. Já existe em pauta, mas ainda não tem data prevista para implantação. Nós já conseguimos levar para Belo Horizonte e estamos esperançosos que consigamos que o projeto chegue aqui.

Temos hoje quase 4 mil moradores de rua e a prefeitura tem apenas um albergue que pode abrigar no máximo 80 pessoas e não tem nenhuma estrutura. Sem cidadania, emprego e educação, os moradores de rua vivem completamente marginalizados. Nós votamos e também somos seres humanos. Apenas desejamos fazer parte da sociedade”, discursou Maria Lúcia.

Segundo Lúcia, o Ministério Público vem ajudando nas investigações dos assassinatos que vitimaram os moradores de rua, principalmente uma chacina, quando quatro morreram no Cabula, em 2010. O Departamento de Homicídios também vem tentando identificar os culpados pelos crimes, mas até agora, ninguém foi preso ou apontado como autor.

Medo da violência faz trocar o dia pela noite
Embaixo do viaduto da Avenida Djalma Dutra, oito pessoas de uma mesma família vivem há três meses. Um sofá, uma mesa improvisada de compensado de madeira, uma cama, alguns pratos, copos, talheres, brinquedos e um fogo feito no chão, evidenciam os detalhes que deveriam comportar numa casa.

Mesmo diante daquela situação de miséria, entregues a própria sorte, o sorriso estava estampado nos rostos dos moradores que receberam a reportagem sem rejeição. Eles preferiram não serem fotografados, mas contaram como é conviver com migalhas e esmolas dos moradores.

A família disse que residia numa invasão, no bairro de Fazenda Coutos III, mas a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) derrubou o barraco.

“Sem ter onde morar encontramos esse viaduto vazio e resolvemos nos instalar aqui. Durante o dia, ficamos nas sinaleiras limpando vidros de carros para ganhar um trocado. Muitos moradores ficam sensibilizados com nossa situação e nos ajudam no café da manhã, almoço e com alguns alimentos durante o dia.

O que mais nos preocupa é a violência na cidade. Devido aos noticiários das mortes dos moradores de rua, fazemos algumas estratégias para proteger nossa família dessas ameaças. Durante a noite, nos revezamos numa espécie de plantão.

Enquanto as crianças e mulheres dormem, os homens permanecem acordados e vamos nos revezando para descansar o outro. Graças a Deus, aqui nunca fomos ameaçados, mas sabemos que a violência é grande e tem muitas pessoas ruins que podem fazer qualquer coisa com a gente sem motivo”, completou um morador do viaduto.

Essa mesma realidade é vivida por milhares de moradores de rua. Basta uma passagem por alguns pontos da cidade, é possível ver moradores de rua dormindo em plena luz do dia. Um morador se exaltou porque foi acordado pela equipe de reportagem. Eles sentem mais segurança em dormir durante o dia, diante do trânsito de carros e pessoas nas ruas do que pela noite, onde pessoas malvadas podem fazer perversidades apenas por diversão.

A maioria dessas pessoas que vivem nas ruas, se concentra na Cidade Baixa, em bairros como Comércio, Calçada, Mares, Bonfim, Nazaré e Boa Viagem. Segundo o censo, os moradores de rua, em sua maioria, tem origem urbana e nasceram na capital ou em outros municípios da Região Metropolitana de Salvador. Os homens ocupam a maior parcela da população pesquisada, onde as idades são variadas entre 18 e 39 anos. Aqueles que se autoclassificam como negros e pardos somam 85% dos moradores de rua em Salvador.

O censo também revelou que grande parte da população de rua não dispõe de documentos básicos, indispensáveis para atos civis e o exercício da cidadania política. Dos pesquisados, 52,7% têm certidão de nascimento, 44 % têm carteira de identidade, CPF (29%), título de eleitor (27,4%) e carteira do trabalho (22,8%). A maioria atua como catadores de materiais recicláveis, devido a eles, o Brasil ocupa o ranking de maior reciclador de alumínio no mundo.

Chacina no Cabula
O mais brutal de todos os crimes que vêm vitimando os moradores de rua, aconteceu no ano passado. Quatro catadores de material reciclável, identificados como Itamar Silva de Jesus, Luís Eduardo, Élio Barreto Silva e Rosalvo foram assassinados com tiros à queima-roupa na cabeça, ocorrido na noite do dia 16, no bairro do Cabula VI.

As investigações foram feitas na época, mas não havia pistas sobre o motivo da chacina. Testemunhas contaram que um carro passou pela rua e quatro homens dentro atiraram diversas vezes na direção das vítimas que dormiam na hora.

A vizinhança disse que os moradores eram pessoas de bem e trabalhavam no bairro com recolhimento de material reciclável, além de ajudar os vizinhos com pequenos serviços, como mudança, favores e cultivo na jardinagem. A principal suspeita dava conta de que os moradores foram vítimas de preconceitos e que as mortes seriam para limpar a área que estava sendo mau vista, devido à ocupação dos mendigos.

Uma semana depois a chacina, o morador de rua Ednei, conhecido como Lacraia, foi assassinado com dois tiros no abdômen enquanto pedia esmola numa sinaleira do bairro Campo Grande, em Salvador. A polícia suspeitava de envolvimento com tráfico de drogas, mas não descartou a possibilidade de crime homofóbico, já que Ednei era negro e homossexual.

FOnte:Tribuna da Bahia


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